quarta-feira, 7 de abril de 2010

Personal Trainer - prescrição aplicada diabéticos

O diabetes Mellitus caracteriza-se por uma menor produção do hormônio insulina, provocando aumento dos níveis de glicose sangüínea.

O diabetes diminui a capacidade do organismo de queimar o material energético ou glicose que ele retira dos alimentos para energia. A glicose é transportada pelo sangue para as células necessitam de insulina, que é produzida pelo pâncreas para permitir que a glicose se movimenta para o interior. Sem insulina, a glicose se acumula no sangue e é eliminada pela urina por meio dos rins (Nielman, 1999)

As causas podem ser as mais variadas tais como hereditariedade, obesidade, estresse, alimentação, gravidez, inatividade física, idade, etc…

A Organização Mundial de saúde classifica os indivíduos como diabéticos, quando os níveis de glicose no sangue estiverem acima dos 140mg/dl.

Os valores normais que devem ser mantidos sobre controle encontram-se entre 75 a 100 mg/dl. Dependendo do tipo de diabetes, seu tratamento inclui a administração de insulina exógena, agentes hipoglicêmicos por via oral, dietas e exercícios físicos (Guedes, 1995).

Tipos de Diabetes:

Diabetes Melito Tipo I

São também conhecidos como insulino dependentes, pois caracterizam-se por apresentarem um quadro de baixa dos níveis de insulina ou mesmo a inexistência da produção da mesma. Durante os exercícios, estes indivíduos respondem com um aumento nos níveis de glicose, ácido graxos e cetonas.

De acordo com POLLOCK (1993) “o diabetes do tipo I instala-se de forma mais rápida e é mais difícil de ser controlada e é tratada por meio de injeções de insulina.”

O tipo I acomete de 10 a 15 % dos diabéticos e tem sua maior incidência em indivíduos jovens (diabete juvenil). TEIXEIRA (1992) e POLLOCK (1993)

Diabetes Melito do tipo II

Freqüentemente denominado diabete melito não insulino dependente, é a diabete que secreta moléculas defeituosas de insulina que não são eficientes para fazer com que a glicose não entre na corrente sangüínea.

Segundo TEIXEIRA (1992), está associada à hereditariedade, dependendo, entretanto, de fatores como vida sedentária e maus hábitos alimentares. Tem sua maior incidência em indivíduos com mais de 40 anos de idade (diabete senil).

Para GUEDES (1998), aproximadamente 80 a 90 % dos diabéticos do tipo II apresentam sobrepeso ou são obesos. Em indivíduos com obesidade leve, o risco de surgimento de diabetes é 2,9 vezes maior que nos não obesos, 5 vezes no caso de obesidade moderada e 10 vezes no caso de obesidade elevada.

A diabetes do tipo II se instala, geralmente, de forma insidiosa, e resulta de uma produção reduzida de insulina pelo pâncreas ou de uma diminuição na sensibilidade dos receptores celulares à insulina. Ela é tratada inicialmente com dieta e exercícios, agentes hipoglicemiantes orais e, finalmente, para alguns indivíduos com injeções de insulina. POLLOCK (1993)

Durante os exercícios, os níveis de glicose se reduzem gradualmente devido à sua maior solicitação de uso pela musculatura esquelética. A produção de glicose pelo fígado é inibida pela presença de altos níveis de insulina, não sendo comprovado, no entanto, a ocorrência de uma hipoglicemia durante os exercícios de curta duração.

Efeitos da atividade física em Diabéticos:

A atividade física pode ser útil como elemento complementar à dieta tradicional. O objetivo dos exercícios seria a otimização da capacidade funcional, controle de peso corporal, a modulação dos níveis glicêmicos e a redução de outros fatores metabólicos de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (Pollock,1993).

A prática de exercícios físicos provoca a elevação da sensibilidade dos tecidos à insulina, e, com isso, a tolerância à glicose aumenta, permitindo, dessa forma, menor restrição à ingestão de glicídios.

Cuidados:

A prática de exercícios físicos só é recomendada quando os níveis circulantes de glicose no sangue são mantidos sob controle mediante o uso de insulina e de dieta adequada. Caso isso não ocorra, á risco de levar o indivíduo diabético a um estado de hipoglicemia (Guedes:1995).

É importante ser informado sob efeitos provocados pelos medicamentos

utilizados pelo indivíduo. Os pacientes que ingerem simultaneamente insulina e agentes betabloqueadores, podem mascarar os sintomas de hipoglicemia e de elevação da freqüência cardíaca.

Exercícios para Diabéticos:

Os benefícios:

O exercício físico é de suma importância para os diabéticos pois ajudam a controlar os níveis de glicose no sangue e o peso corporal.

A prática de atividades físicas, segundo VIVOLO (1994), contribui para os níveis de glicemia, aumentar a capacidade do corpo em utilizar a glicose e aumentar a capacidade da insulina na redução dos níveis de glicose no sangue. Este fato faz com que haja a administração de uma menor quantidade e insulina para quem a toma diariamente ou um melhor aproveitamento deste substrato nos diabéticos que possuem este hormônio, mas que não são capazes de utilizá-la adequadamente.

VIVOLO, afirma que a atividade física provoca uma diminuição do risco de doenças cardíacas, melhora da hipertensão arterial e em combinação com a dieta um controle do diabetes tipo II, em alguns casos, eliminando a necessidade de medicação.

Segundo Guedes (1998), os indivíduos diabéticos que conseguem obter uma redução de aproximadamente 20% de seu peso corporal inicial demostram ser capazes de suspender o uso de insulina exógena ou de agentes hipoglicêmicos. Deste modo, o autor considera que a prevenção da obesidade pode retardar ou prevenir o desenvolvimento pelos diabéticos.

Prescrição de exercícios:

Os exercícios para diabéticos insulino-dependentes só podem ser praticados se os níveis de glicose estiverem controlados. O controle se baseia no nível de aproximadamente 250mg% e ausência de sintomas. VIVOLO (1994)

O primeiro passo para prescrição de exercício é obter do indivíduo um exame que relate a condição dos níveis sangüíneos de glicose. É também necessário realizar uma avaliação antes de iniciar o programa de exercícios.

Precauções quanto à prática de exercícios:

Os diabéticos do tipo I devem precaver-se quanto à prática de atividade física logo após a aplicação de insulina. No tipo II, os exercícios ajudarão a perder ou a manter o peso corporal. Deste modo, deve-se tomar cuidado com os exercícios que contribuem para que o sobrepeso do indivíduo comprima os vasos e comprometa a circulação sangüínea.

Não se exercitar em condições climáticas adversas sem tomar algumas precauções também é uma maneira de melhorar a prática de exercícios. Ao exercitar-se no calor, recomenda-se molhar as partes do corpo com água gelada a intervalos regulares. No frio, escolher roupas que permitam um isolamento adequado do frio, evitando tecidos que não permitem a evaporação do suor.

Segundo VIVOLO (1994), os diabéticos bem controlados devem tomar cuidado com a probabilidade de ocorrência de uma hipoglicemia que podem ocorrer antes, durante, logo após ou no decorrer 24 horas seguintes ao término da atividade física, pois o nível de glicose continuará a cair.

Já nos maus controlados, a atividade física pode elevar o nível de glicose no sangue e também produzir ou elevar os corpos cetônicos de forma indesejável.

Deve-se evitar a realização de exercícios nos horários de pico da ação da insulina, visando prevenir a Hipoglicemias. Um bom horário para exercitar-se é após as refeições, quando o indivíduo apresenta bastante disponibilidade de glicose. Nesse caso, a atividade física é utilizada como uma forma de reduzir essa elevação. No entanto exercícios de alta intensidade devem ser evitados nessas ocasiões.

A atividade física pode influenciar na “velocidade de absorção da insulina”, se for aplicada imediatamente antes dela. É aconselhável iniciar a atividade até pelo menos uma hora após ter tomado insulina.

Não recomenda-se a prática de exercício caso: o nível de glicose esteja acima de 300 mg/dl; o nível de glicose esteja acima de 240 mg/dl e cetonas na urina; quando apresentar alguma complicação.

Se o indivíduo for realizar exercícios físicos mais rigorosos a aplicação deve ser feita no abdômen.

Alguns pacientes podem ter necessidade de se alimentar antes da atividade física. Esse fato deve fazer parte do planejamento alimentar, sob orientação do médico ou da nutricionista.

Ao realizar um exercício de maior intensidade por período mais prolongado pode ser difícil para o paciente prevenir a queda de glicose no sangue apenas com a alimentação suplementar. Nesse caso, convém reduzir a dose de insulina que está agindo durante o período de realização dos exercícios.

Recomendações:

Segundo o American College of Sports Medicine (ACMS), o indivíduo diabético deve se exercitar de 5 a 7 dias por semana, com a duração entre 30 - 40 minutos e a intensidade de 60 à 75 da Fc máx ou 50 à 60% do VO2máx. A atividade de predominância aeróbia.

Exercícios de intensidade elevada ou longa duração devem ser evitados (acima de 60 minutos), como também em temperaturas elevadas.

Fonte:Prof. Ms. Jeferson Macedo Vianna
Tel. (32) 3236-1081 / 9987-5089 E
E-mail: jeferson_vianna@uol.com.br ou
jvianna@faefid.ufjf.br

retirado do site http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_noticia=625

terça-feira, 6 de abril de 2010

Aspectos Metodológicos Do Treinamento Concorrente

INTRODUÇÃO
Para se obter o máximo desempenho em algumas atividades físicas específicas são necessários a adoção de estratégias que possibilitem a otimização do treinamento. A estruturação de programas de treinamento que combinem a força e a resistência aeróbia parece colaborar para um maior rendimento atlético. A magnitude da melhora irá depender do tipo e da ordem dos exercícios, da intensidade, da duração, da freqüência, dentre outras variáveis inerentes à um programa de treinamento. No entanto, em uma rotina de exercícios às vezes serão necessárias a combinação de duas funções antagônicas porém integradas para a especificidade exigida pela modalidade.
A literatura internacional tem adotado com freqüência a terminologia treinamento concorrente para se referir aos programas que combinam treinamento de força e de resistência aeróbia em uma mesma sessão de exercício, assim como as possíveis adaptações antagônicas produzidas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras (HAKKINEN ET AL., 2003). Ainda existem outros tipos de treinamento combinado como o força-flexibilidade por exemplo.
Além do aumento do desempenho, o treinamento combinado pode interferir no gasto energético diário, aumentando-o dependendo da ordem de execução (DRUMMOND ET AL., 2005).
Castinheiras Neto (2007) verificou que o treinamento combinado iniciado pelo exercício contra-resistência seguindo para exercício aeróbio em coronariopata pode influenciar a queda pressórica em 14,5mmHg para a PAS e 5mmHg para a PAD após 12 meses de exercício supervisionado.
Verifica-se desta forma que o treinamento combinado pode ter inúmeras facetas e irá depender do objetivo proposto, pois a adoção de uma dada estratégia pode refletir-se em maior ou menor desempenho, independente do nível de aptidão física.
Drummond et al (2005) relataram que os sujeitos que realizaram treinamento de força precedendo exercício aeróbio encontraram mais dificuldade para concluir a sessão do que quando iniciavam a rotina de treinamento com exercício aeróbio.
Sporer e Wenger (2003) também verificaram uma redução no número máximo de repetições a 75% de 1RM até oito horas depois de dois tipos de atividade aeróbia (intervalado com alta intensidade e contínuo com intensidade moderada). Os autores também demonstraram que houve uma recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade aeróbia para o teste de repetições máximas.
TREINAMENTO CONCORRENTE: força e aeróbio
Alguns autores acreditam que o comprometimento no desenvolvimento da força durante o treinamento concorrente tenha como origem a fadiga muscular induzida pela depleção de substratos energéticos exigidos pela atividade aeróbia intensa. O efeito subagudo do exercício aeróbio prejudicaria o grau de tensão desenvolvido durante a sessão de treinamento de força (KRAEMER ET AL., 2005)
Entretanto Gomes e Aoki (2005) após suplementar o grupo experimental com creatina verificou que não houve perda significativa do desempenho na atividade aeróbia subseqüente reforçando a teoria da fadiga como predisponente da diminuição da geração de força voluntária máxima.
Leveritt e Abernethy (1999) verificaram a influência na produção de força de membros inferiores no exercício agachamento após uma atividade intermitente realizada no cicloergômetro em intervalos de cinco minutos. O teste de força consistia de três séries de repetições até a fadiga, com uma carga equivalente a 80% de 1RM. Houve diminuição significante no número de repetições máximas quando comparado com a sessão controle sem a atividade aeróbia. O número de repetições, por série, na condição controle e na condição experimental foi respectivamente: 13,83 ± 5,71 e 8,83 ± 2,99; 11,17 ± 4,45 e 8,17 ± 3,6; 10,17 ± 5,04 e 8,83 ± 3,54. Os autores concluíram que a queda aguda na produção de força após o exercício aeróbio pode comprometer o desenvolvimento de força.
Craig et al. (1991) também relataram que o desenvolvimento de força dos membros inferiores foi comprometido quando os indivíduos realizavam sessões de corrida antes das sessões de treino de força, no entanto isso não ocorreu nos membros superiores.
Sporer e Wenger (2003) demonstraram que houve uma recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade aeróbia para o teste de repetições máximas e 8 horas para sessão de treinamento de força com carga de 75% de 1RM.
Verifica-se que são numerosos os trabalhos que atribuem diminuição da força muscular quando o mesmo é realizado após uma sessão de exercício aeróbio. Porem, alguns trabalhos reforçam que esse tipo de atividade pode ter um potencial benéfico independente.
Delagardelle et al. (2002), atribuem maior benefício alcançado por grupo de cardiopatas que treinou em sessão dupla (força+aeróbio) do que aqueles que treinaram sessão única (aeróbio), como aumento da força dinâmica e do VO2 máximo.
Wood et al. (2001) em paciente idosos verificou que aqueles que treinam em sessão combinada melhoraram mais a densidade óssea mineral e diminuíram a gordura corporal substancialmente em relação aqueles que realizavam sessão única de exercício aeróbio.
Castinheiras Neto (2007) apesar de não medir os níveis de força muscular através de testes convencionais, verificou que o treinamento combinado cronicamente pode promover aumento da tolerância ao esforço, medido por teste ergométrico, da força muscular sub-máxima, utilizando percepção subjetiva de esforço, da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, utilizando ecocardiograma, além de diminuição da terapia anti-hipertensiva, dentre outros benefícios advindos do exercício físico combinado.
Portanto, a prescrição do treinamento combinado deve levar em consideração vários fatores como idade, disponibilidade de tempo, estado de saúde, dentre outros aspectos.

TREINAMENTO CONCORRENTE: força e flexibilidade

Da mesma forma como é discutida a concorrência negativa entre treinamento de força e exercício aeróbio, discute-se a concorrência entre o treinamento de força e de flexibilidade e sua ordem de execução.
Níveis adequados de força muscular e flexibilidade são fundamentais para o bom funcionamento músculo-esquelético, contribuindo para a preservação de músculos e articulações saudáveis ao longo da vida (ACSM, 1998). Por outro lado, tanto o declínio da força muscular quanto dos níveis de flexibilidade vai gradativamente dificultando a realização de diferentes tarefas cotidianas, levando, muitas vezes, à perda precoce da autonomia (ACSM, 1998). Assim, a prática regular de programas de exercícios físicos voltados para o desenvolvimento ou manutenção da força muscular e da flexibilidade ou, até mesmo, de outros importantes componentes da aptidão física relacionada à saúde pode exercer papel extremamente relevante ao longo da vida.
Desse modo, tem crescido acentuadamente o número de praticantes de programas de exercícios com pesos entre jovens, adultos e idosos, de ambos os sexos e com diferentes níveis de aptidão física. Apesar disso, ainda existem muitas controvérsias atreladas à prática isolada do treinamento com pesos. Uma dessas controvérsias está relacionada às possíveis modificações negativas que, aparentemente, podem ser acarretadas pelo treinamento de força ao longo do tempo sobre os níveis de flexibilidade, uma vez que as informações disponíveis na literatura a esse respeito não são conclusivas.
Embora alguns desses estudos apontem para uma redução dos níveis de flexibilidade imediatamente após a prática de exercícios com pesos (WIERNANN, 1998), algumas limitações metodológicas relevantes, tais como a falta de padronização dos programas de treinamento executados pelos sujeitos, o instrumento de medida utilizado, o número reduzido de exercícios executados, dentre outras, dificultam uma análise mais criteriosa das informações produzidas. Além disso, a possível explicação para a redução da amplitude de movimento articular verificada nesses estudos, baseada no aumento do estresse de relaxamento, não foi confirmada com o uso de uma técnica mais sofisticada, como a eletromiografia (WIERNANN, 1998), o que sugere que outros fatores ainda desconhecidos podem estar envolvidos nesse processo.
Cyrino et al. (2004) verificaram que o programa de empregado de exercício resistido não provocou redução dos valores de flexibilidade observados antes do período de intervenção. Além disso, os resultados encontrados sugerem que as 10 primeiras semanas de prática de treinamento de força podem contribuir para a preservação ou, até mesmo, aumento dos níveis de flexibilidade em diferentes articulações.
Em contra-senso Rubini et al. (2007) em revisão de literatura atribuem mais peso a perda de força após a realização de exercício de alongamento do que o contrário, apesar dos protocolos utilizados nas sessões de flexibilidade ser diferentes daqueles normalmente utilizados em rotina de treinamento convencional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicabilidade do treinamento concorrente deve ser planejada por profissional de Educação Física habilitado que seja capaz de prescrever com base científica a melhor estratégia para que se possa alcançar o máximo desempenho, respeitando as limitações do cliente. É notável que o desempenho no exercício de força pode ser mais prejudicado que o exercício aeróbio quando uma das modalidades for realizada previamente a sessão principal. Quanto a influencia da flexibilidade sobre a força ou vice-versa, podemos entender que a força afeta pouco a flexibilidade enquanto a flexibilidade pode afetar a força de maneira mais significativa.


Retirado do site http://www.artigonal.com/saude-artigos/aspectos-metodologicos-do-treinamento-concorrente-876819.html
Antonio Gil Castinheiras Neto - Perfil do Autor:
É Mestre em Ciências da Atividade Física (UNIVERSO), pós-graduado em Reabilitação Cardíaca (UGF) e Graduado em Educação Física (UNESA).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Metabolismo energético


O fornecimento energético é fundamental para a contração muscular. Isto acontece pela capacidade que o músculo tem de transformar energia química em energia mecânica. Um elemento fundamental em todo este processo é o ATP (trifosfa­to de adenosina), que é um composto altamente energético capaz de fornecer energia para a contração. Ele funciona como uma pilha dentro da célula, armazenando energia que a qualquer momento pode ser libertada de acordo com a fórmula:ATP -+ ADP + P + 7300 calorias. O conteúdo de ATP intracelular (moles de ATP/grama de fibra muscular) proporciona energia que permite a atividade muscular durante poucos segundos.Na prática a contração muscular é bastante mais duradoura, o que significa que ao mesmo tempo em que há degradação de ATP há também a sua re-síntese, a partir do ADP recentemente formado, através de dois processos como o seu nome indica, há transferência das ligações de fósforo previamente formadas a partir de moléculas de fosfocreatina e com intervenção da enzima creatinofosfoquinase (CPK).Fosfocreatina + ADP <-> Creatina + ATPEsta reação química acontece durante o esforço. Na situação de repouso dá-se a reação inversa, ou seja, a fosforização da creatina, com reposição dos níveis citoplasmáticos de fosfocreatina. A re-síntese do ATP acontece no sarcoplasma, sem oxigênio, e daí denominar-se a este tipo de metabolismo de anaeróbico alático, ou seja, sem formação de ácido láctico. Apesar de o conteúdo de fosfocreatina na célula (20-30 moles de PC/grama de tecido muscular) ser bastante superior ao de ATP, a sua reserva é também limitada e apenas fornecem energias para contrações musculares inferiores há dez segundos. Então, a partir desta duração de esforço a célula vai obter o seu ATP através de outras vias.
É um processo menos rápido do que o anterior, em que há criação de novas ligações de fósforo a partir da oxidação dos substratos energéticos, ou seja, dos hidratos de carbono e gorduras principalmente. Também as proteínas poderão ser usadas mas de um modo muito pouco representativo. Daqui resulta energia que se vai armazenando sob a forma de A TP, a tal pilha ou bateria intracelular. Antes de abordarmos as vias fosforilativas é importante abordar o que acontece imediatamente antes delas: a glicólise, ou via de Embden Meyerhof, que acontece no citoplasma e na ausência de oxigênio. A glicólise consiste no desdobramento da glicose até à formação de ácido pirúvico, com formação de dois ATP. A partir da formação do ácido pirúvico é a existência ou a ausência de oxigênio que vai determinar se o ácido pirúvico vai entrar na mitocôndria e se integre no ciclo do ácido cítrico (ou de Krebs ou ciclo dos ácidos tri carboxílicos), ou se permanece no citoplasma e seja metabolizado até ácido láctico, respectivamente.
Glicólise aeróbica ou fosforilação oxidativa
Consiste no desdobramento da glicose até aos produtos finais COz e H20, com libertação de energia, exigindo a presença de oxigênio. Esta via tem duas localizações na célula; uma inicial que acontece no citoplasma, com formação de ácido pirúvico, e outra no interior das mitocôndrias. Esta via implica, como é óbvio, uma oxigenação adequada. Glicose + 2ATP + 6O2 -> 6O2 + 6H2O + 40ATP Este tipo de metabolismo é altamente rendível (saldo positivo de 38 ATP), pois a partir de uma molécula de glicose obtêm-se numerosas moléculas de ATP. Deste modo é possível manter um esforço por largos períodos de tempo, sendo o esforço limitado pelas reservas dos nutrientes energéticos. É também chamado de aeróbico por depender da existência de oxigênio.
Glicólise anaeróbica
Quando a oxigenação da célula muscular é inadequada e quando há necessidade de energia, a célula vai metabolizar o ácido pirúvico, na ausência de oxigênio e no citoplasma, formando ácido láctico e pouca energia. Glicose + 2ATP -> 2 ácido láctico + 4ATP Por cada molécula de glicose metabolizada resulta um saldo positivo de duas moléculas de ATP. É um tipo de metabolismo pouco rendível, que leva ao rápido esgotamento dos substratos energéticos, determinando um esforço de curta duração. Não deixa, no entanto, de ser importante, pois é uma via alternativa encontrada pela célula em circunstâncias mais adversas no que se refere ao fornecimento de oxigênio. O ácido láctico forma-se em grandes quantidades. Mais freqüentemente ele passa para o sangue, através do qual se dirige para o fígado onde poderá ser reconvertido em glicose, a qual entrará em novo ciclo metabólico. O processo pelo qual há síntese de glicogênio a partir de compostos não glicídicos (ácido láctico, gorduras, etc.) é chamado neo­glicogênese. Mas se houver melhoria das condições circulatórias locais que levem ao aumento da oxigenação, como acontece no período imediato após um esforço bastante intenso e/ou rápido, ele poderá ser re­convertido em ácido pirúvico e este entrar no ciclo de Krebs. A fração H da desidrogenase láctica (LDH-H) é a enzima responsável por este processo. No entanto, e apesar destes dois destinos, o ácido láctico pode acumular-se localmente, assim como o ião H+, fazendo baixar o pH e originando acidose. Esta situação é responsável pela inibição das enzimas envolvidas na contração muscular e parece ser a causa das cãibras musculares que acontecem no decorrer de esforços demasiado violentos ou duradouros. Para se quantificar o ácido láctico formado, ou o componente anaeróbico de determinado esforço, pode-se ou determinar a lactacidemia (normal inferior a 1,2 mmol/l) ou determinar a diferença arteriovenosa da concentração sanguínea de lactato, no respectivo circuito vascular muscular, o que dá um resultado mais correto. A glicose metabolizada por via aeróbica ou anaeróbica é o principal substrato energético utilizado em esforços intensos e de curta duração ou na fase inicial de qualquer esforço.
Oxidação das gorduras
As gorduras constituem um substrato energético importante. São armazenadas no organismo sob a forma de triglicerídeos, provêm ou da dieta ou da transformação de outros nutrientes (glicose, por exemplo). Por ação das enzimas lípases sobre os depósitos de gordura há libertação de ácidos gordos que poderão ser utilizados diretamente pela célu­la. Da B-oxidação dos ácidos gordos, na qual são retirados dois átomos de carbono em cada ciclo, origina-se uma grande quantidade de energia, tanto maior quanto maior o comprimento da cadeia. Por exemplo, se o ácido gordo tiver 6 átomos de carbono (como a glicose) há formação de 44 moles de ATP (na glicose eram 38); outro exemplo: o ácido palmítico que tem 16 átomos de carbono.C12 H32 O2 + 23O2 -> B. oxidação -> 16CO2+ 16H2O + 135ATP Como se vê desta reação química, a presença de oxigênio é essencial para a oxidação dos ácidos gordos, pois não há via anaeróbica de oxidação das gorduras. Esta é apenas um privilégio da glicose. E a partir da oxidação das gorduras que se obtém a maior parte da energia consumida em repouso e em esforços prolongados e submáximos, o que tem imenso interesse prático para as pessoas que desejam perder peso à custa do consumo de gorduras. Os indivíduos treinados, e muito provavelmente devido a grandes adaptações hormonais, apresentam uma maior capacidade de mobilização de ácidos gordos durante o esforço. Os fundistas, por exemplo, têm como principal substrato energético as gorduras, enquanto os sprinters queimam principalmente glicose. Durante um jogo de squash gasta-se menos gordura do que durante um exercício aeróbico, como por exemplo, a marcha. Esta tem bastante mais interesse em termos de emagrecimento do que o tal jogo de squash, apesar de este ser bastante exigente em termos de esforço físico.
Oxidação das proteínas (aminoácidos)
As proteínas são formadas a partir de aminoácidos e têm como principal função a sua atividade enzimática e suporte estrutural. Como fornecedoras de energia desempenham um papel muito pequeno. Calcula-se que a energia que se obtém a partir dos aminoácidos, quer em repouso quer em esforço, e em condições normais, é sempre inferior a 2% do total consumido.