terça-feira, 6 de abril de 2010

Aspectos Metodológicos Do Treinamento Concorrente

INTRODUÇÃO
Para se obter o máximo desempenho em algumas atividades físicas específicas são necessários a adoção de estratégias que possibilitem a otimização do treinamento. A estruturação de programas de treinamento que combinem a força e a resistência aeróbia parece colaborar para um maior rendimento atlético. A magnitude da melhora irá depender do tipo e da ordem dos exercícios, da intensidade, da duração, da freqüência, dentre outras variáveis inerentes à um programa de treinamento. No entanto, em uma rotina de exercícios às vezes serão necessárias a combinação de duas funções antagônicas porém integradas para a especificidade exigida pela modalidade.
A literatura internacional tem adotado com freqüência a terminologia treinamento concorrente para se referir aos programas que combinam treinamento de força e de resistência aeróbia em uma mesma sessão de exercício, assim como as possíveis adaptações antagônicas produzidas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras (HAKKINEN ET AL., 2003). Ainda existem outros tipos de treinamento combinado como o força-flexibilidade por exemplo.
Além do aumento do desempenho, o treinamento combinado pode interferir no gasto energético diário, aumentando-o dependendo da ordem de execução (DRUMMOND ET AL., 2005).
Castinheiras Neto (2007) verificou que o treinamento combinado iniciado pelo exercício contra-resistência seguindo para exercício aeróbio em coronariopata pode influenciar a queda pressórica em 14,5mmHg para a PAS e 5mmHg para a PAD após 12 meses de exercício supervisionado.
Verifica-se desta forma que o treinamento combinado pode ter inúmeras facetas e irá depender do objetivo proposto, pois a adoção de uma dada estratégia pode refletir-se em maior ou menor desempenho, independente do nível de aptidão física.
Drummond et al (2005) relataram que os sujeitos que realizaram treinamento de força precedendo exercício aeróbio encontraram mais dificuldade para concluir a sessão do que quando iniciavam a rotina de treinamento com exercício aeróbio.
Sporer e Wenger (2003) também verificaram uma redução no número máximo de repetições a 75% de 1RM até oito horas depois de dois tipos de atividade aeróbia (intervalado com alta intensidade e contínuo com intensidade moderada). Os autores também demonstraram que houve uma recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade aeróbia para o teste de repetições máximas.
TREINAMENTO CONCORRENTE: força e aeróbio
Alguns autores acreditam que o comprometimento no desenvolvimento da força durante o treinamento concorrente tenha como origem a fadiga muscular induzida pela depleção de substratos energéticos exigidos pela atividade aeróbia intensa. O efeito subagudo do exercício aeróbio prejudicaria o grau de tensão desenvolvido durante a sessão de treinamento de força (KRAEMER ET AL., 2005)
Entretanto Gomes e Aoki (2005) após suplementar o grupo experimental com creatina verificou que não houve perda significativa do desempenho na atividade aeróbia subseqüente reforçando a teoria da fadiga como predisponente da diminuição da geração de força voluntária máxima.
Leveritt e Abernethy (1999) verificaram a influência na produção de força de membros inferiores no exercício agachamento após uma atividade intermitente realizada no cicloergômetro em intervalos de cinco minutos. O teste de força consistia de três séries de repetições até a fadiga, com uma carga equivalente a 80% de 1RM. Houve diminuição significante no número de repetições máximas quando comparado com a sessão controle sem a atividade aeróbia. O número de repetições, por série, na condição controle e na condição experimental foi respectivamente: 13,83 ± 5,71 e 8,83 ± 2,99; 11,17 ± 4,45 e 8,17 ± 3,6; 10,17 ± 5,04 e 8,83 ± 3,54. Os autores concluíram que a queda aguda na produção de força após o exercício aeróbio pode comprometer o desenvolvimento de força.
Craig et al. (1991) também relataram que o desenvolvimento de força dos membros inferiores foi comprometido quando os indivíduos realizavam sessões de corrida antes das sessões de treino de força, no entanto isso não ocorreu nos membros superiores.
Sporer e Wenger (2003) demonstraram que houve uma recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade aeróbia para o teste de repetições máximas e 8 horas para sessão de treinamento de força com carga de 75% de 1RM.
Verifica-se que são numerosos os trabalhos que atribuem diminuição da força muscular quando o mesmo é realizado após uma sessão de exercício aeróbio. Porem, alguns trabalhos reforçam que esse tipo de atividade pode ter um potencial benéfico independente.
Delagardelle et al. (2002), atribuem maior benefício alcançado por grupo de cardiopatas que treinou em sessão dupla (força+aeróbio) do que aqueles que treinaram sessão única (aeróbio), como aumento da força dinâmica e do VO2 máximo.
Wood et al. (2001) em paciente idosos verificou que aqueles que treinam em sessão combinada melhoraram mais a densidade óssea mineral e diminuíram a gordura corporal substancialmente em relação aqueles que realizavam sessão única de exercício aeróbio.
Castinheiras Neto (2007) apesar de não medir os níveis de força muscular através de testes convencionais, verificou que o treinamento combinado cronicamente pode promover aumento da tolerância ao esforço, medido por teste ergométrico, da força muscular sub-máxima, utilizando percepção subjetiva de esforço, da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, utilizando ecocardiograma, além de diminuição da terapia anti-hipertensiva, dentre outros benefícios advindos do exercício físico combinado.
Portanto, a prescrição do treinamento combinado deve levar em consideração vários fatores como idade, disponibilidade de tempo, estado de saúde, dentre outros aspectos.

TREINAMENTO CONCORRENTE: força e flexibilidade

Da mesma forma como é discutida a concorrência negativa entre treinamento de força e exercício aeróbio, discute-se a concorrência entre o treinamento de força e de flexibilidade e sua ordem de execução.
Níveis adequados de força muscular e flexibilidade são fundamentais para o bom funcionamento músculo-esquelético, contribuindo para a preservação de músculos e articulações saudáveis ao longo da vida (ACSM, 1998). Por outro lado, tanto o declínio da força muscular quanto dos níveis de flexibilidade vai gradativamente dificultando a realização de diferentes tarefas cotidianas, levando, muitas vezes, à perda precoce da autonomia (ACSM, 1998). Assim, a prática regular de programas de exercícios físicos voltados para o desenvolvimento ou manutenção da força muscular e da flexibilidade ou, até mesmo, de outros importantes componentes da aptidão física relacionada à saúde pode exercer papel extremamente relevante ao longo da vida.
Desse modo, tem crescido acentuadamente o número de praticantes de programas de exercícios com pesos entre jovens, adultos e idosos, de ambos os sexos e com diferentes níveis de aptidão física. Apesar disso, ainda existem muitas controvérsias atreladas à prática isolada do treinamento com pesos. Uma dessas controvérsias está relacionada às possíveis modificações negativas que, aparentemente, podem ser acarretadas pelo treinamento de força ao longo do tempo sobre os níveis de flexibilidade, uma vez que as informações disponíveis na literatura a esse respeito não são conclusivas.
Embora alguns desses estudos apontem para uma redução dos níveis de flexibilidade imediatamente após a prática de exercícios com pesos (WIERNANN, 1998), algumas limitações metodológicas relevantes, tais como a falta de padronização dos programas de treinamento executados pelos sujeitos, o instrumento de medida utilizado, o número reduzido de exercícios executados, dentre outras, dificultam uma análise mais criteriosa das informações produzidas. Além disso, a possível explicação para a redução da amplitude de movimento articular verificada nesses estudos, baseada no aumento do estresse de relaxamento, não foi confirmada com o uso de uma técnica mais sofisticada, como a eletromiografia (WIERNANN, 1998), o que sugere que outros fatores ainda desconhecidos podem estar envolvidos nesse processo.
Cyrino et al. (2004) verificaram que o programa de empregado de exercício resistido não provocou redução dos valores de flexibilidade observados antes do período de intervenção. Além disso, os resultados encontrados sugerem que as 10 primeiras semanas de prática de treinamento de força podem contribuir para a preservação ou, até mesmo, aumento dos níveis de flexibilidade em diferentes articulações.
Em contra-senso Rubini et al. (2007) em revisão de literatura atribuem mais peso a perda de força após a realização de exercício de alongamento do que o contrário, apesar dos protocolos utilizados nas sessões de flexibilidade ser diferentes daqueles normalmente utilizados em rotina de treinamento convencional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicabilidade do treinamento concorrente deve ser planejada por profissional de Educação Física habilitado que seja capaz de prescrever com base científica a melhor estratégia para que se possa alcançar o máximo desempenho, respeitando as limitações do cliente. É notável que o desempenho no exercício de força pode ser mais prejudicado que o exercício aeróbio quando uma das modalidades for realizada previamente a sessão principal. Quanto a influencia da flexibilidade sobre a força ou vice-versa, podemos entender que a força afeta pouco a flexibilidade enquanto a flexibilidade pode afetar a força de maneira mais significativa.


Retirado do site http://www.artigonal.com/saude-artigos/aspectos-metodologicos-do-treinamento-concorrente-876819.html
Antonio Gil Castinheiras Neto - Perfil do Autor:
É Mestre em Ciências da Atividade Física (UNIVERSO), pós-graduado em Reabilitação Cardíaca (UGF) e Graduado em Educação Física (UNESA).