Quando falamos em esporte, criamos paralelamente um mundo de super-heróis, com homens e mulheres com ‘poderes’ sobrenaturais que podem, em um breve jogo de palavras, vencer o invencível. Com isso, é absolutamente comum surgirem grandes discussões, em nossos círculos de vida, sobre a capacidade dos atletas.
Ontem tivemos a abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, e esta edição, mais do que todas as outras, mexe com o público brasileiro, já que na próxima edição o Rio de Janeiro será sede da maior competição esportiva do planeta. A Olimpíada é a competição mais importante para todos os atletas e envolve um número gigantesco de modalidades. Atletas que quebram recordes atrás de recordes, se sacrificam por vários e vários anos até esta competição, tudo para mostrar em minutos, ou muitas vezes segundos, que são os melhores do mundo.
O assunto de hoje surge em meio a essa preparação toda. Acreditamos que esses homens e mulheres são realmente incríveis, mas as Olimpíadas criaram um mundo onde uma fração de segundo pode ser a diferença entre a decepção e a fama mundial. As margens são muito pequenas e, para atingir o máximo da capacidade, só treinamento e dedicação não basta. Você tem que usar um equipamento com o mínimo de resistência à água ou correr com sapatos equipados, além de treinar contra atletas, companheiros de profissão e máquinas. Isso citando apenas algumas das tecnologias que a cada dia conhecemos melhor.
A tecnologia obriga os treinadores a estarem preparados. Hoje ocorre uma situação inusitada, pois um treinador pode acessar as informações do último treinamento, ferramentas e recursos para os seus atletas. Entretanto, o treinador deve ter o conhecimento tecnológico para fazer uso destas propriedades de base tecnológica. A tecnologia está envolvida no nosso cotidiano e seus benefícios trouxeram grandes mudanças a nossa vida. No esporte não é diferente e ela auxilia atletas, técnicos e árbitros, fortalecendo a ideia de contribuir para um resultado mais justo.
Entretanto, o assunto não é tão simples como texto mostra. O auxílio no processo é bem visto até o ponto em que a tecnologia compete contra o atleta. O sul-africano Oscar Pistorius conseguiu permissão do Tribunal Arbitral do Esporte para disputar os Jogos Olímpicos, não só os Paraolímpicos (onde ele já havia ganhado ouro em Atenas). Na edição de Londres, ele vai competir contra atletas que não fazem uso de próteses. Imaginem a cena: todos os atletas se aquecendo, alongando, quando olham para o lado um cara com próteses em forma de jota invertido começa a se preparar para a largada. Imaginem o choque no mundo todo assistindo. Será muito interessante.
A ciência entrou em ação nesse caso, isso porque era necessário provar que, usando as próteses, o atleta não levaria vantagem sobre os outros. Alguns cientistas eram contra e diziam que a utilização das próteses faria com que o atleta utilizasse menos oxigênio para determinado movimento. Outros cientistas diziam que por um percurso maior que o testado a diferença fica insignificante. Mesmo liberado para competir, as dúvidas persistem e com certeza será motivo para várias e várias discussões pelo mundo todo.
Porém, esta dúvida existe hoje. Pode existir, até o momento em que veremos numa mesma prova atletas separados pela tecnologia de maneira tão deflorada. Caso o sul africano seja derrotado, qual será nosso pensamento? Será que vamos pensar que seria impossível mesmo ele vencer, já que foi algo grandioso ele conseguir chegar às olimpíadas?
Na realidade, as maiores discussões vão acontecer caso ele vença e leve para casa o badalado ouro olímpico. Já imaginou atletas incríveis como Michael Phelps, Yelena Isinbayeva, Usain Bolt ou até mesmo Neymar ficar no pódio no degrau debaixo de atletas como Oscar Pistorius? Como será o dia seguinte no esporte mundial?
Fica a dica: O esporte e a tecnologia são dois acontecimentos distintos, porém a cada dia são mais ligados. Neste texto, não defendo e não critico a participação de nenhum atleta aos Jogos Olímpicos, pois acredito que todos os atletas classificados são merecedores de tal situação. O texto apenas mostra as situações que a tecnologia pode nos oferecer com a evolução natural e cabe a você ler e tirar suas devidas conclusões. Deixo claro que, como educador físico, acredito que o esporte é para todos.
Laert Braz Junior é formado em Educação Física no Centro Universitário de Araraquara (Uniara) e pós-graduado na Universidade Gama Filho em Atividade Física Adaptada e Saúde. É professor na academia Saúde Activa.
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