O assunto de hoje vai mexer com a cabeça de grande parte dos praticantes de atividades físicas. Até mesmo porque o tema escolhido é a caminhada, que segundo um estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, é a atividade física mais praticada em nosso país. O motivo desse número imenso de praticantes de caminhada é o fato deste ser o exercício mais sugerido e indicado não só por profissionais da área da saúde, mas também pela população em geral.
É absolutamente comum quando alguém toma a iniciativa de começar a prática de alguma atividade física e recebe diversas sugestões para realizar caminhadas durante trinta ou quarenta minutos todos os dias. E as explicações para essas sugestões vêm dos benefícios que essa atividade pode proporcionar para nossa qualidade de vida. Os benefícios mais citados são normalmente:
• Melhora a circulação;
• Deixa o pulmão mais eficiente;
• Combate a osteoporose;
• Afasta a depressão;
• Aumenta a sensação de bem-estar;
• Deixa o cérebro mais saudável
Lendo todos esses benefícios e acreditando que caminhada não tem uma ‘contra-indicação’ por ser uma atividade de pouco impacto, a sobrecarga da caminhada é de apenas 1,5 vezes o peso corporal, isso significa que um praticante de caminhada de 70 quilos recebe a sobrecarga de 105 quilos durante a caminhada, um valor super baixo para uma atividade física. Por isso, podemos acreditar que não há problema algum em indicar a caminhada como atividade a ser praticada?
É exatamente neste aspecto que muitas vezes acabamos indicando a caminhada de maneira muito precipitada, podendo até mesmo prejudicar o desenvolvimento físico do praticante. Isso por que grande parte das pessoas que aderem à caminhada como prática esportiva são os idosos. Normalmente, as queixas de cansaço, fraqueza, estresse ou até mesmo dores pelo corpo são os motivos mais comuns para que recebam como orientação iniciar uma prática diária de caminhada.
E essa atividade gera ao idoso exatamente a mesma sobrecarga de 1,5 vezes o peso corporal, porém desta vez estamos falando de um idoso, que possui uma fragilidade maior a doenças como osteoporose, artrites, artroses, hipertensão, diabetes entre muitas outras. Essa fragilidade, aliada à sobrecarga, pode acabar prejudicando e aumentando tantos as dificuldades de movimento como também aumentar a incidência de dores pelo corpo.
Pior ainda acontece quando as indicações vêm com a proposta de realizar caminhadas com uma velocidade mais rápida do que a pessoa costuma andar nas atividades diárias, com o intuito de forçar um pouco mais. Neste caso a sobrecarga aumenta e o idoso sofre ainda mais com pressão sobre seus membros inferiores.
Durante o processo de envelhecimento é absolutamente natural reduzirmos nossas capacidades físicas e a força é uma das atividades que mais sofrem neste processo. Com a redução da força nos membros inferiores, o idoso aumenta o duplo apoio, aquele momento da caminhada que estamos com os dois pés apoiados ao chão. Esse aumento prejudica a energia gerada pelos tecidos elásticos encontrados em nossa musculatura e eles geram uma grande parte da energia utilizada durante a caminhada.
Podemos grosseiramente comparar esse mecanismo de gerar energia a uma mola. Com isso, além de sofrer com a sobrecarga natural da caminhada, o idoso ainda tem essa sobrecarga presente em uma porção maior do movimento e isso pode acabar prejudicando-o ainda mais.
Mas não pense que a partir de agora nenhum idoso pode caminhar, pode sim. O mais importante neste assunto é entender que muitas vezes aconselhamos as pessoas sem pensar se essa atividade pode acabar sendo prejudicial à saúde naquele indivíduo. Esse é um erro muitas vezes repetido até mesmo por profissionais da área da saúde, que muitas vezes acabam indicando a caminhada sem uma avaliação física mais detalhada.
É muito importante que, independente da atividade a ser praticada, ela deve ser orientada por um professor de educação física ou, no caso, de um processo de reabilitação ser indicado por um fisioterapeuta, afinal esses dois profissionais estudam a natureza e a ação dos movimentos sobre o corpo.
Fica a dica: Cuidado quando você sugere determinada prática esportiva a alguém. Ao invés de ajudar, sua dica pode atrapalhar o que era para ser um simples programa de melhora na qualidade de vida.
Laert Braz Junior é formado em Educação Física no Centro Universitário de Araraquara (Uniara) e pós-graduado na Universidade Gama Filho em Atividade Física Adaptada e Saúde. É professor na academia Saúde Activa.
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